“Eu conheço um planeta onde há um homem vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!” e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!”
Trecho do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry – Editora Agir
Fiquei refletindo, depois de ler esta brilhante afirmação de Saint Exupéry, sobre ser uma pessoa ou um cogumelo... Pensei que ser um cogumelo faz jus ao sentimento de solidão característico dos últimos tempos.
Temos experimentado uma combinação explosiva entre insegurança e medo, causando-nos uma solidão modificada, diferente daquela que sentíamos há algumas décadas, especialmente por ser tão contraditória a dinâmica atual do mundo, que nos proporciona tantas formas de encontros.
A tecnologia facilita, aproxima, encurta distâncias, oferece inúmeras opções para se “conhecer” pessoas. Entretanto, o fato é que estamos cada vez mais nos sentindo sós, descartados de um todo que outrora confortava, acolhia, preenchia qualquer súbita sensação de vazio.
Sim, é verdade, somos singulares por natureza. Uma pessoa, uma vida. Somos indivíduos por definição. Há que se considerar, portanto, a magia e a importância existentes na condição de ‘ímpar’ que nos identifica. Isto é indiscutível!
Porém, temos deixado escapar uma percepção fundamental: a de que somos parte essencial de um todo, de um Universo composto por milhões de outras partes; e, sobretudo, que sem nos moldarmos de maneira afetivamente inteligente a algumas dessas partes (àquelas que nos são complementares e preciosas), nossa existência termina perdendo o sentido.
A nossa forma só compõe um desenho realmente válido quando encaixada a outras formas. Mas, para tanto, precisamos nos envolver e nos permitir, considerar possível a entrega, apesar de sentimentos como insegurança e medo.
Temos misturado e confundido dois termos que são, na verdade, antagônicos: amor-próprio e egoísmo. Temos acreditado - catastroficamente - que, ao desenvolvermos uma boa auto-estima e respeitarmos nossos desejos, deveremos - quase como numa conta matemática - desconsiderar o outro. Como se numa relação houvesse espaço para somente um ser respeitado e, consequentemente, o outro ser desrespeitado.
Temos agido equivocadamente por apostarmos que em detrimento do que “o outro é”, deve prevalecer sempre o que “eu sou”. Primeiro a minha vontade. Depois, se for cabível, dou atenção ao que o outro deseja. E se ele não aceitar que assim seja, então que ‘vá às favas’.
Temos sido ingênuos o bastante para acreditar que se o outro não nos aceita como somos é porque não gosta de nós o suficiente e, portanto, não merece estar ao nosso lado e desfrutar de nossa companhia.
Ledo engano. Relações que valem a pena são aquelas onde há espaço para todos serem respeitados, porque existe consciência e disponibilidade para conhecer a si mesmo e ao outro. O intuito tem de ser o de investir num relacionamento cujo objetivo é servir de caminho para a evolução de todos os envolvidos, tenha ele o nome que for: amizade, parceria, parentesco, casamento, namoro ou qualquer outro.
Mas temos perdido a capacidade de acolher as diferenças, de aceitar aquilo que nos obriga a nos olhar de frente, sem as máscaras. Não queremos rever nossas escolhas. Não queremos mudar para nos adaptar. A partir das teorias atuais, mudar pelo outro não faz parte das regras. Não combina com amor-próprio. No entanto, por conta da inflexibilidade e da distorção sobre o que venha a ser o tal do amor-próprio, estamos todos morrendo de solidão.
É... eu sei que não dá para ser profundo com todo mundo. Não teríamos tempo nem disponibilidade interna para tanto. Somos naturalmente seletivos. Por isso, escolhemos (ou pelo menos deveríamos escolher) certas pessoas para quem nos entregamos a ponto de nos mostrar sem máscaras, sem meias-palavras, sem pensar tanto em como devemos nos comportar e o que dizer ou em quem ser a cada instante.
Invista nessas relações, pois é justamente onde você vai encontrar espaço para recarregar suas energias. É esse tipo de encontro que o faz sentir-se integrante, porque mais do que ser adequado, nelas você é autêntico, genuíno, inteiro e, portanto, brilhante. Chega de ser cogumelo!
Rosana Braga é Escritora, Jornalista e Consultora em Relacionamentos Palestrante
e Autora dos livros "Alma Gêmea - Segredos de um Encontro"
e "Amor - sem regras para viver", entre outros.
Email: rosanabraga@rosanabraga.com.br
Texto retirado do site:
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=6262
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